domingo, 26 de junho de 2011

Meu Cúmplice


Enzo, meu amado, olho nos teus olhos e vejo o tesouro que você é. Vejo o seu sorriso e enxergo sua alma... Ela é linda e pura! Penso comigo: O que fez esse menino corajoso optar por uma experiência tão delicada? A gente sabe que seu pai está vivo, porém não está mais aqui... Para mim, Enzo, você é um dos caras mais destemidos que conheço e sei que vai vencer todos os obstáculos que quiser. Parabéns por ser quem você é.

Infelizmente ainda não posso estar tão perto de você, mas sei que nosso tempo chegará. Enquanto isso, à distância, mando pra você o meu amor, o meu carinho e faço o que for possível, do meu modo, pra te ajudar.

No dia 22 de junho de 2011, sonhei com seu pai. Ele estava todo bonito, vestido de branco e com uma mala bege na mão. Olhou para mim e sorriu. Pegou as chaves de um carro e se dirigiu a uma Pick Up. Entrou no veículo, deu a partida e se foi por uma estrada bonita, rumo ao sol que nascia. Acordei emocionado!

Durante o desjejum, partilhei com sua tia Cisete o meu “sonho”. Imaginamos que significava ele estar, naquele momento, comunicando sua partida de uma vez por todas. Oramos e nesse momento, sua avó Marinice chegou. Pedimos por você, por sua mãe e por seu pai. Foi quando novamente senti aquela pressão na nuca e sabia exatamente do que se tratava. Mais uma vez ele falou através de mim e segundo sua tia Ci e sua avó Mari, disse que estava mesmo indo, pois o que havia deixado pendente já resolvera. Pediu que não nos entregássemos à tristeza porque isso só o atrapalharia e que sempre que tivéssemos uma recaída, rezássemos por ele e o visualizássemos envolvido e preenchido pela Luz.

Ratificou o amor dele por você e deixou transparecer certa dor por estar deixando essa vida. Coisa normal pra quem viveu tão intensamente!... Trocou algumas palavras com sua avó, com sua tia e disse que confiava na força da sua mãe, pois sabia que ela venceria todas as adversidades. Por fim, concluiu sua comunicação deixando um abraço fraterno para todos os entes queridos e dizendo que voltaria quando pudesse.

Pediu a benção a sua avó, despediu-se de sua tia e se foi...

Quando saí do transe, estava banhado em lágrimas. Sentia uma dor dupla: a dor dele por estar finalmente se desprendendo de tudo isso e a minha por estar vendo meu mano amado finalizando o processo da viagem.

Minha mãe ficou feliz por esse contato. Falou-me que era impressionante a minha metamorfose quando ele me tomava! Disse-me que eu mordia a língua e coçava os olhos como ele. Cisete estava chorando também...

Sua avó então comentou que antes do acontecido, estava em casa e de repente sentiu uma vontade enorme de ir me ver. Chegou exatamente na hora da nossa oração matinal e aí se deu o contato. 

Mais um jogo delicioso do velho Dida. Através de várias linhas, ele vai tecendo sua trajetória e suas comunicações amorosas para conosco.

Quando liguei pra sua tia Mile e contei o fato, o chororô “comeu no centro” e ela agradeceu a Deus por eu poder ter essa facilidade de me comunicar com ele e trazer “notícias do mundo de lá”.

Desliguei o celular e pensei: Por que ele me escolheu?

A resposta foi imediata: Porque sempre fomos cúmplices um do outro e aí vieram cenas lindas de nós dois:

Quando comecei a estudar e a praticar magia, era ele quem me levava de carro para fazer obrigação no mar, nas pedreiras, nas montanhas, no mato, nas cachoeiras e em todos os lugares que você pudesse imaginar. Sempre ele estava disposto a me ajudar e em nenhum momento em que eu o solicitei, me faltou.

Daniel sabe de toda a minha vida. Com ele eu nunca tive segredos. Com ele partilhei todos os meus casos, loucuras, delitos, experiências, sucessos, fracassos, medos, superações... Ele nunca me recriminou por nada e olha que seu titio aqui já aprontou feio... Em Dan, sempre tive mais que um amigo que me acolhia, que me respeitava, que me amava e que mesmo quando ouvia minhas confissões mais secretas e escabrosas, me abraçava e dizia: “Tem nada não, véio... Depois passa”.

Assim como ele conhece muito bem minhas sombras e minha luz, eu conheço as dele e isso fez com que nos tornássemos genuínos cúmplices, um do outro. Jamais nos condenamos pelas merdas que tenhamos feito. Em diversos momentos, tanto eu como ele, não concordamos com certas coisas, todavia jamais deixamos de nos compreender e de nos apoiar.

Muitas vezes, ele se desabafou comigo. Muitas vezes o vi chorar e o acolhi em meus braços até ele colocar tudo pra fora e se sentir melhor... Seguramos muitas barras, um do outro, e em momentos dolorosos, soubemos nos apoiar.

Sempre que nos víamos, tínhamos a necessidade de nos isolarmos um pouco dos outros. Naquela hora, o mundo era apenas eu e ele... Daniel é o melhor cúmplice, amigo e irmão que alguém pode ter e se eu recebi esse presente, é porque sou um homem privilegiado. E se mesmo sem corpo físico, ele recorreu a mim, sou humildemente, um irmão honrado e agradecido.

Beijo, meu menino. Seu pai é meu ídolo.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Óculos


Enzo, meu bom, uma das coisas que me chamava muito a atenção com relação a seu pai era a obstinação do cabra. Muitas vezes, ele empacava que nem jegue, quando queria uma coisa, mesmo que seu desejo fosse “aparentemente” o mais irracional que se possa imaginar. A história abaixo é apenas um exemplo desse comportamento riquíssimo e pra lá de interessante. Saca só...

Há anos atrás, sofri um acidente em Salvador. Fui atropelado por um carro e quando ele me arremessou no asfalto, tive uma fratura no braço e alguns ferimentos. No momento em que caí, bati com a face esquerda no solo e tive uma lesão próxima ao olho – os óculos viraram nada.

Dias depois de todos os socorros devidos (nunca me esqueço da força do seu tio Cleber Fonseca, que estava próximo a mim na hora do acidente) fomos eu, meus pais e Daniel ao consultório do nosso amigo oftalmologista Dr. R., em Santo Antonio de Jesus, pois morávamos em Nazaré, para vermos se houve algo grave com meu olho esquerdo.

Dr. R., como sempre, foi muito gentil conosco, tratou-me com atenção e diligência, ouviu meu relato e pôs-se a me examinar.

Graças a Santa Luzia, não houve danos em minha visão. Só precisaria mesmo comprar óculos novos.

Foi aí que nosso amigo médico quis também examinar a visão de Dida. O guri gordinho se sentou todo tirado na cadeira do “oftalmo” e os testes começaram.

Ao final deles, Dr. Roberto disse para Dida:

- Seus olhos estão ótimos. Tá tudo bem com você.

- O senhor está dizendo que não preciso de óculos?

- Isso mesmo.

Daniel fechou a cara.

Despedimo-nos e nos retiramos do consultório.

Quando nos demos conta, Daniel estava se acabando de chorar:

- O que foi, Dan?-Perguntei.

- O que foi, meu filho? – Indagou minha mãe.

- Esse médico da “misera”! Esse Filho da P... tá errado. Eu quero repetir o exame. Eu quero usar óculos. Ele não sabe de nada.

- Mas Dani – argumentou meu pai – Que negócio é esse, desgriba? Ele é o melhor oftalmologista que conhecemos. Ele fez tudo o que podia fazer para te examinar. Você ao invés de ficar contente porque não precisa de óculos, fica assim... Nunca vi isso.

- Quero saber de nada não, meu pai! Me deixe, viu. Eu quero usar óculos. Eu vou usar óculos e não se fala mais nisso!

- Mas você não tem nada... – minha mãe ensaiou falar e foi cortada imediatamente por Dida.

- Mesmo eu não tendo nada, preciso usar óculos e não se fala mais nisso.

Rimos mudos e discretos e não se falou mais nada.

A Homenagem da Cards Service

Enzo, por onde seu pai passou, deixou um rastro de amizade, carinho, competência e alegria.

Veja quão bela é a homenagem feita pela galera da Cards Service quando ele deu o zig.

A gente não deixa de ficar triste com a ausência física dele, porém é confortante estar ratificando, a todo momento, o fato de que seu Espírito vive em todos nós.

Amo demais esse cara...

Para sempre, Daniel.


El atirador de facas


Enzo, minha criança, lembro-me de algumas passagens inusitadas que tive a honra de viver com seu pai. Na verdade, tudo com Dan sempre foi inusitado: ele,em si; a vida com ele; as coisas dele; a loucura dele; a generosidade; o companheirismo; as corrupções... Seu pai tem uma ética própria e a meu ver, é exatamente isso que faz dele um homem especial.

Cada momento ao lado de Daniel foi, é e sempre será algo mágico, no sentido mais puro da palavra, porque ele é único.

Feliz de mim, de você e de quem pôde conviver com ele mais de perto.
Vamos à história...

Dida ainda era criança e Enilton Leal, nosso grande amigo Ninil, sempre estava lá em casa – e nós na dele.
Éramos todos uma grande família: nós, Ninil, Edilton (mano dele que também deu o zig), os pais dele (grande Dute, que também deu o zig), os nossos – uma festa.

Um dia Ninil estava perturbando Dida, mexendo com o sacaninha, enchendo o saco dele e o menino só dizia com cara de brabo:

- Pára, Nil. É melhor parar.

E Ninil nada de parar. Abusava, abusava e abusava. Até que Dida olhou pra ele com aquele olhar de Charles Bronson emputecido e falou:

- Se você não parar, vou lhe atirar uma faca.

- Qual é a sua, Dani? Vá se f... Você não é homem pra me rumar uma pedra. Quanto mais uma faca.

O guri deu aquela risada sacana e entrou em casa. Eu e Ninil estávamos do lado de fora,conversando e já até tínhamos esquecido de Daniel.

Então se deu uma aparição inesperada: O próprio empunhando a faca da cozinha! Eu e Enilton ficamos com os c... no ponto.

- Dan, que brincadeira é essa? – Perguntei tenso (morrendo de medo!!!)

- É pra esse sacana ver que sou o homem.

Dito isso, o “brodi” arremessou a faca contra nosso amigo e a sorte foi que Nil era ágil e conseguiu se desviar da arma a tempo de não ser atingido pela mesma. A faca se cravou no solo. Eu e Enilton ficamos bestificados com a coragem daquele menino-homem e mudos, constatamos que era um cabra honrado se impondo diante de outro mais velho e mais forte. A partir daquele dia, tanto nós dois, como outros que souberam da história, nos tornamos mais cautelosos quando o assunto era sacanear o velho Dida. Ele nos ensinou a dar limites.

 Daniel sorriu triunfante e entrou em casa.

Eu e Enilton ficamos com cara de otários.


terça-feira, 21 de junho de 2011

A Presença de Dida

Enzo, meu nego, saca só a comunicação que rolou entre Timile e Tinessa, num dia em que Tinessa estava nada bem e providencialmente encontrou uma mensagem escrita por seu pai, no final de 2010.


Mille,

Boa noite!

Hoje acordei reclamando de tudo. Sabe aquela pessoa chata, triste, melancólica? 
Pois é, euzinha!
Agora à noite, estava futucando algumas coisas e encontrei o que nem eu mesma sabia que procurava. Um texto de Daniel, para a galera da Cards no final de 2010.
Nega, dá só uma lida no que ele deseja para todos em 2011.
O que mais mexeu comigo, e me faz perceber que estou sendo egoísta, foi esse trecho do texto:

"A vida nos da todas as possibilidades para nos superarmos, ela nos dá no dia a dia a possibilidade de darmos mais de nós mesmos, de crescermos. Deus espera muito mais de nós, em todos os aspectos."   


Emocionada, vejo que a vida é um grande mistério, neste dia que estou, Deus me leva a visitar o site da empresa...para continuar seguindo o que meu amigo e chefe tem para me ensinar.

Agora, Enzo, segue abaixo o texto de Dan, na íntegra:

"Tecer  comentários  sobre  o  ano  de  2010  nada  mais  é  do  que 
envolver-se  em  quatro  aspectos  básicos  que  em  suma  podem  fazer  uma 
rápida retrospectiva. Adaptação, Força de Vontade, Transpiração e Paixão.

  Tivemos que nos adaptar a diversas variáveis surgidas no curto inter-
valo de tempo. Tivemos que nos adaptar ao rumores do mercado, às mudan-
ças  internas,  à  necessidade  de  desenvolver  formas  diferentes  de  atuar, 
pensar... Diante de um ambiente algumas vezes incerto  se não tivéssemos 
tido ao nosso lado a Força de Vontade em fazer o negócio acontecer certa-
mente o que não era difícil passaria a ser. Tivemos que suar, transpirar... Muito 
mais transpiração do que inspiração. E o interessante que no ritmo frenético 
do trabalho os momentos de insight, as ocasiões de se reinventar, ashes de 
inspiração surgiam... E perante tudo isso, nada seria possível se não houvesse 
a Paixão... Paixão pelo trabalho, paixão pela área em que atuamos, paixão em 
servir, em ajudar a fazer as coisas acontecerem, e principalmente paixão pela 
empresa.

  O que esperar de 2011? Tomara que este novo ano venha a nos pedir 
muito mais do que podemos dar, pois é dessa forma o aprendizado acontece 
de fato. Que em nenhum momento nossos mais sublimes sonhos caiam no 
esquecimento.  Tê-los  sempre  em  mente  nos  ajuda  a  seguir  em  frente. 
Tropeços  vão  acontecer,  algumas  falhas  idem,  se  desapontar  com  outrem 
sem dúvida.  E  tudo  isso  é  mais  do que necessário.  A  vida  nos  da  todas  as 
possibilidades para nos superarmos, ela nos dá no dia a dia a possibilidade 
de darmos mais de nós mesmos, de crescermos. Deus espera muito mais de 
nós, em todos os aspectos.

  Portanto,  meus amigos,  espero  que em 2011,  a  vida  espere  muito 
mais de nós. Tenho certeza que teremos sucesso! Um Formidável 2011 Para 
Todos Nós!"

Luiz Daniel de Jesus
Gerente Regional




sábado, 18 de junho de 2011

Nossas Eternas Infância e Adolescência

Enzo, meu menino lindo, sua tia Mile é uma figura...

Ela me mandou um texto de sua autoria que me tocou profundamente. É super visual e me fez viajar no tempo e acompanhar todas aquelas cenas de nossas vidas com tanta nitidez, que tive a sensação de estar operando em várias épocas ao mesmo tempo...

Simplesmente lindo!
Apaixonante!

Conheça mais um pouco desse homem que te ama loucamente: seu pai...

Capitulo I
                Consegui parar e escrever minha contribuição para o Livro: O Presente De Enzo. Procurei forças, coragem e voltei ao passado... Num dia chuvoso do dia 22 de agosto de 1981, vi minha mãe arrumando as sacolas, com pequenos objetos para um bebê que estava na sua barriga. Ela estava enorme, com pernas bem inchadas, o rosto bem redondo e os cabelos lisos caindo sobre seu rosto branco e um pouco cansado. Por diversas vezes passava suas mãos pela barriga e respirava fundo, eu me aproximava, beijava e falava coisas próximo daquela barriga para aquele bebê que não consigo me lembrar.  Minha avó Benedita estava lá em casa, e recordo-me dela falando: “ – Esse daí vai ser chorão, nascendo assim, em dia de chuva”. Ficava imaginando o choro dele ecoando pela casa e a certeza que tudo ia mudar me assustava e ao mesmo tempo me deixava muito alegre.  Tínhamos um fusca verde e só me lembro de ver minha mãe entrando nesse fusquinha ao lado de meu pai e indo para o Hospital Gonçalves Martins, lá em Nazaré. O bebê que estava na barriga de minha mãe: Luiz Daniel Santos de Jesus. Eu tinha apenas 4 anos de idade e Tony 8 anos como irmão mais velho e parceiro de traquinagens. A partir daquele dia em diante passaríamos a ser três.
                Daniel chegou em casa dois dias depois, tinha tanto cabelo. Minha curiosidade para ver aquele rosto rosado era maior do que tudo no mundo, minha mãe sorria muito e minha avó Benedita a segurava e mandava que ela se acomodasse um pouco. Consegui ver aquele olhinho puxado, uma boca bem vermelha, um nariz que o boi pisou, (marca registrada da família) era ele, meu irmãozinho, enrolado num monte de paninhos, acho que verdes. Olhar aquele ser pequenino se mexendo fazia parte do meu dia-a-dia, queria ajudar, queria dormir no berço com ele, queria que minha mãe colocasse as fraldas dele em mim também. Uma vez experimentei o leite materno e fiquei preocupada: Como era que ele suportava tomar aquilo com o gosto tão ruim?! Quando minha mãe não estava olhando, pegava a chupeta dele e colocava na minha boca, coisa de criança mesmo.  O tempo foi passando, eu Tony e Dani crescendo.
                Quando ele ainda era bebê de poucos meses, ele apareceu com uma inflamação nos olhos e me lembro de minha mãe pegando a água da lima, colocando numa vasilha e misturando com outro liquido e limpando os olhinhos dele, eu ficava na ponta do pé e ajeitava o cortinado que o protegia de mosquitos. Quando minha mãe deu as costas, peguei uma banda da lima e passei no rosto dele para que ele ficasse logo bom. Ele caiu no choro “coitado”, minha mãe voltou-se para o berço correndo e quando viu a cena ficou atônita, só me lembro dela falando: “Minha filha, o que você esta fazendo?”.  Eu respondi: “Colocando remedinho no meu irmão, mãe”.  Ela o retirou do berço às pressas, a lima caiu da minha mão e ele berrava cada vez mais alto e ficava cada vez mais vermelho. Depois desse fato, minha mãe ficou mais atenta comigo ao lado dele e policiava cada movimento meu próximo do pequeno que crescia.
                Dani tinha uma mania quando bebê: colocava o dedo no umbigo, a chupeta entre os lábios e a parte de baixo da gengiva e ficava fazendo um som assim: “goli-goli-goli-goli”, até pegar no sono. A depender do sono, ele espaçava esse barulho e o som voltava ainda mais forte, era como se não quisesse dormir. De repente fazia “goli” e os olhinhos fechavam e a mão que estava futucando o umbigo parava de se mexer. Mas esse “goli-goli”  o acompanhou por muitos anos e o dedo dentro do umbigo também. Demorou para ele parar de fazer xixi na cama e várias vezes, ele fazia xixi na dele e vinha dormir comigo. Perdi as contas das vezes que acordava toda “mijada”...
                Quando ele começou a aprender a falar, lembro-me das primeiras palavras que eram boua (bola), gol, cau (carro), boi...  ele aprendeu a me chamar de Bibe. Desta maneira ele me chamou até ficar maiorzinho, por volta dos 07 a 08 anos ele passou a me chamar pelo nome todo e só quando queria alguma coisa que ele vinha com o “Bibe”... Sempre genioso e brincalhão, passávamos as tardes vendo TV e brigando por causa do canal: ele só queria assistir Jaspion e brincar de luta, ele dizia que eu era Namaguiderás e vinha com pontapés e golpes de caratê em cima de mim. De vez em quando eu “descia a madeira” (porrada) e a brincadeira virava briga, era uma loucura! Cleonice, a babá que tomava conta da gente, ficava louca. A gente brigava pelo lugar no carro, pela batata frita na mesa, pelo nhoque de D. Dalva pelo ventilador, pelo colo da nossa mãe, pelos brinquedos, por quase tudo. Daniel era aquele tipo de menino abusado, que não parava quieto.
Tomamos juntos muito mingau de Cremogema e Maizena quando davam três horas da tarde. Para matar nossa fome, o mingau era colocado num prato de sopa fundo, que segurava a fome da gente até a hora do jantar.  Adorávamos quando tinha “cavaco” (um tipo de massa tipo do pastel, frita passada no açúcar e na canela em pó”). Muitas foram as brigas para ver quem comia mais...
Nós tínhamos um cachorro chamado Boomer, que era a paixão dele. Dani sempre gostou muito de cães e um dia, ainda no berço, ele inventou de jogar Boomer de cima para baixo do berço. Quando eu e Tony ouvimos o choro do amigo fiel (caimmmmmmmm) saímos correndo e encontramos Dani se acabando de rir no berço. Tony ficou furioso, a gente pensou que o pobre cachorro tinha quebrado a pata e fomos em busca de um Veterinário, antes de sairmos, Tony todo chateado falou:” Se ele tiver alguma coisa ele vai se ver com a gente!”.
                Daniel tinha um hábito horrível de pegar o penico azul que ele tinha no banheiro e levar para qualquer canto da casa para fazer as necessidades dele, uma vez Boomer chegou de mansinho e acabou passando o dente no pinto dele, foi um chororô só! Sangrou até um pouco, minha mãe ficou louca, mas não houve maiores problemas, a prova disso é Enzo ai!
                Teve um período que minha mãe matriculou a gente na aula de música, a professora era a mãe de Misael e Marcelo. Daniel estava tentando aprender a tocar teclado e eu, violão. Tony já tocava violão e a gente queria aprender algum instrumento também. Ele até tocou na AABB uma vez, acho que numa festa dos Dias dos Pais, foi lindo! Ele tocava mordendo a língua de um lado para o outro e isso me divertia muito.
                Daniel, quando brigava comigo, descontava nas minhas fitas cassete que eu passava o domingo todo gravando, ele saía de ponta a ponta da casa com as fitas, passando pelas pernas das mesas das cadeiras, enfeitando a casa toda e se acabando de rir. Eu só faltava quebrar ele todo depois que via o estrago. Chorava de raiva.
                Todos os sábados, à tarde, éramos obrigados a participar das missas das crianças e íamos desejando que acabasse logo só para tomar o sorvete da Kibom na lanchonete de Nenéu, próxima ao Banco do Brasil. Às vezes, íamos comer torta com refrigerante na Esquina 21 e no Ponto 10, os deliciosos sanduíches.
                Recordo do caminho que fazíamos voltando da Escolinha Novo Horizonte de Tia Tan, a “música da fome” que tocava na Voz do Cruzeiro. Quando chegava meio-dia e chegávamos  em casa parecendo bichos de tanta fome: “Padroeira, Asilo Santo”...
                Nosso vovô, José Pedro de Jesus, pai de Curió, chamava Dani de Dadá e todas as vezes que chegávamos na casa dele, ele perguntava: “ Dadá, quer batata?”  e assanhava a cabeleira preta dele. Meu avó tinha mania de fazer quadros e fazia no fogo, uma cola, tipo  goma, ele pegava e dizia que ia colar no meu cabelo e não ia sair mais.  Ele acobertava meu avô roubando comida da cozinha antes de ficar pronta e na época quando meu vovô foi terminantemente proibido de beber qualquer coisa alcoólica, ele roubava o conhaque e o uísque.
                Ele adorava futebol e na época Dida era o goleiro do momento. Ele adotou esse apelido para ele e daí surgiu “Didael” a mistura de Dida com Daniel.
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                Daniel adorava andar de skate e passava tardes e tardes batendo aquele objeto barulhento na varanda de casa, acabando com as pedras, uma vez, Janine, amiga de infância, inventou andar com o skate de Daniel, resultado: um braço fraturado. Ele brincava de futebol com cachorro, roía unha, já fez coleção de meleca, perdia a conta dos almanaques e álbuns de figurinhas, principalmente da Seleção Brasileira.
                Determinada época, eu comecei a namorar escondido e Daniel me chantageava para conseguir o que ele queria e não contar para minha mãe, até que um dia, “o pirralho” deu com a língua nos dentes e contou tudo a minha mãe. Eu quase levei uma surra e tive que terminar o namoro.  Fiquei de mal com aquele gordinho por dias, mas ele sempre dava um jeito de me abusar e tirar de mim um sorriso.
                Com Daniel eu bati pela primeira e única vez na vida o carro de meu pai, o famoso Chevette Cinza EP 1515, acabei com a mala do carro, e o pior, dando ré. Fui levá-lo de carro para escola - Aildes Almeida - e nem me dei conta do muro do estabelecimento de ensino, só me lembro dele com os olhos arregalados dizendo: “Se fudeu! Se fudeu!”... Sílvio (filho de Ana Luzia) que veio trazendo o carro para mim de volta para casa, eu tremia que nem vara verde.
                Foi Daniel que entregou a gente, no dia do primeiro beijo de Noélia (nossa prima-irmã). Estávamos na Ilha de Tairú e eu só me lembro da voz dele, “Mãinha, Ó Jamile ali com um monte de gente”... Estávamos eu, Elly e Nó fazendo um “Lual” com Tony tocando violão e mais um monte de amigos... Daniel nos descobriu e arruinou o primeiro beijo de Noélia. Passamos o carnaval inteiro de castigo e ele rindo da nossa cara.           
                De 20 palavras faladas, 17 eram palavrões, mas quando ele se retava!!!  Baixava uma pessoa séria e mais amadurecida do que parecia. Parecia um pai, um rei, um líder.
                Nós adorávamos dançar e por muitas vezes treinávamos os passos durante a semana para dançar nas festas da AABB no sábado. Ele dançava sorrindo e tinha um molejo retado. Ele me fazia de mola, no dia seguinte eu ficava com a coluna e o pescoço acabados.
                Para começo de história, fico por aqui, outras histórias ainda serão reveladas.

                Ao relembrar os fatos vividos, ouvir nossas vozes e barulhos de quando ainda éramos crianças, senti diversos aromas, diversas sensações, como se tivesse realmente voltado ao passado. Meus olhos se encheram de lágrimas e se misturavam às palavras na tela do computador. Vi nossas fardas escolares passarem pela minha mente, nossos cadernos, nossos brinquedos, a nossa casa de Nazaré, de Tairú... Senti a ponta dos meus dedos passarrem pelos cabelos de meu irmão e uma saudade gostosa invadiu meu ser.  Desenhei Daniel com a lembrança...  Beijei-o com minha alma, consegui ouvir sua gargalhada.
O amor que sinto por você irmão é tão grande que transborda e chega paro o nosso Enzo. Eu quero e vou fazer o que for possível e o impossível para mostrar para ele a pessoa maravilhosa que você se transformou.
Nunca falei isso para ninguém, mas chegou à hora, sabe, lá no céu tem as Três Marias... Olhava para o cima, as procurava e  pensava: Tony, Mile e Dani. (risos). Uma estrela sempre guiando a outra... Não vai deixar de ser assim. Porém agora você vai nos guiar e preparar o terreno para quando a gente tiver que ficar do seu lado.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Quando a morte ronda - Parte Final

Esse foi o último texto, meu sobrinho querido, postado em 26 de maio de 2011.


Ao lado está seu pai, ainda bebê, nos braços de sua bizavó materna, "Dita" - uma mulher formidável da qual muito me orgulho pela coragem e força que teve durante a vida de ser ela mesma e lutar pela própria felicidade. Ela também deu o zig...Já faz algum tempo e se ainda não voltou, deve estar lá com ele, relembrando outras histórias e dando boas gargalhadas.


No dia 24 de maio de 2011, fiz o maior exercício de desprendimento material da minha vida: seguindo a orientação espiritual do meu menino, votei a favor do desligamento dos aparelhos que mantinham o seu coração batendo, mesmo ele já estando em morte cerebral, (condição irreversível) e presenciei tal ato.


Instantes após, sua passagem foi concluída e sua libertação, conquistada. Examinando todo o processo em que estávamos inseridos, tive o seguinte insight: Tanto as pessoas que discordaram do desligamento como as que optaram pelo mesmo tinham, têm e terão algo em comum: O Amor por Daniel. E apesar das diferenças entre essas pessoas, em nome desse amor, escolhemos a conciliação, ainda que permaneçamos discordando uns dos outros.

Mais uma lição que ele nos deixa: Somos artífices do nosso próprio destino, criadores da nossa própria realidade e Senhores de nossas próprias escolhas. Alguém pode argumentar que a dissociação entre alma e um corpo é tarefa da espiritualidade ou do Guia Pessoal do indivíduo encarnado. Na minha amplitude, porém, eu enlouqueço e questiono: Se todos somos ESPÍRITOS porque não assumimos de uma vez por todas nossas destinações e alternativas? Se somos ESPÍRITOS, temos o poder de decidir nossa rota. Não é minha intenção me fechar em nada - apenas endoidecer.

Diante do que vivenciei, conclui que existem crenças que limitam e crenças que ampliam. Ainda assim, o verdadeiro amor é superior a todas elas e traz nos seu bojo a essência da liberdade. Creio que assim como temos o direito de decidir a hora em que vamos nascer, também o temos de determinar o momento da nossa passagem. Isso não é crime! É tomarmos as rédeas do nosso destino nas próprias mãos e nos apropriarmos da nossa condição de Deuses - poder que um dia as religiões usurparam de nós e que agora, pelo esforço individual e auto-conhecimento, estamos recuperando.

Nenhum princípio é maior que o ser humano. O que foi fechado haverá de se abrir e quem quiser evoluir, terá, inexoravelmente, que mudar suas convicções mais firmes e abandonar suas verdades e dogmas mais arraigados. Finda-se o tempo da ignorância. A Luz toma conta do planeta e as consciências alçam vôo livre. Preparemo-nos para a maior Revolução de todos os tempos. NAMASTÊ!

Quando a morte ronda V

Esse eu postei no dia 26 de maio de 2011... 


Foi quando ele contou comigo para expressar a sua vontade e cercou tanto a mim quanto a outras pessoas de evidências que comprovaram a força da mesma:



Meu irmão Daniel deu entrada na UTI no dia 07 de maio de 2011 com suspeita de Influenza H1N1.  No dia 08, foi entubado. Seus pulmões estavam infectados em quase sua totalidade e foi feito um tratamento intensivo que começou a debelar a infecção, mas afetou os rins, em função de uma nefrite que ele teve no passado. Passou uns dias fazendo hemodiálise, seu quadro foi melhorando, mas no dia 19, uma surpresa desagradável aconteceu: um aneurisma rompeu e teve hemorragia galopante no cérebro. Ele estava no Hospital São Marcos e foi transferido para o Português, pois lá há melhores condições para se cuidar de algo tão delicado. Na mesma tarde, soubemos pelo médico que ele começou a entrar em processo de morte cerebral, o que nos deixou deveras transtornados.

No dia 22, foi confirmada sua morte cerebral e fomos chamados por um médico à UTI, a fim de consultar-nos se deveria ou não desligar os aparelhos. Eu, minha mulher e minha mãe optamos pelo desligamento. Minha irmã, meu pai, minha cunhada e a maioria dos parentes presentes, não. Respeitamo-nos e seguimos com nosso sofrimento.

No dia 23, meus pais e minha irmã concluíram que o melhor seria o desligamento, mas minha cunhada manteve sua opinião, por razões próprias. Eu e minha mulher tentamos convencê-la que a melhor decisão seria pôr um fim nesse martírio, mas por questões religiosas, ela se manteve irredutível. A partir daí, vivi uma experiência interessante e faço questão de registrá-la:

Antes de falar com minha cunhada, passei num estabelecimento comercial que vende eletrodomésticos e enquanto olhava algumas mercadorias, ouvi o seguinte comentário de uma das vendedoras: Hum! Que cheiro de rosas!Depois disso fui encontrar com minha esposa e no trajeto, comecei a me sentir estranho. Uma pressão na nuca começou a me incomodar e minhas mãos gelaram. Reencontramo-nos, conversamos com a esposa do meu irmão por telefone, e ao concluirmos a discussão, a pressão intensificou e ouvi claramente a voz dele a me dizer: Confie em mim. Faça o que eu pedir. Vá ao hospital agora. Preciso falar com as pessoas.

Disse a minha companheira que iria ao hospital. Minha cunhada e meus pais estavam a caminho do mesmo e a necessidade dele de se comunicar com eles passou a ser minha condutora nesse processo insólito. Senti-me tomado por meu irmão e em minha mente, ouvia sua voz me comandando:passe numa papelaria, compre papel – e eu o fiz; pegue um táxi e vá para o Português. Com quem eu quero falar, estará na capela. Instantes depois, minha cunhada me ligou e disse: Cunhado, estamos na capela.

Cheguei ao meu destino e lá estavam meus pais – minha mãe estava numa espécie de transe – minha cunhada, um tio e um primo. Pedi que nos déssemos as mãos e lhes perguntei se confiavam em mim. Atestaram positivamente. Questionei à mulher de Dan se ela acreditava em minha mediunidade. Resposta afirmativa. Então rezamos o Pai-Nosso e me sentei num dos bancos da capela. A partir daquele momento, a energia de Dan concluiu seu processo de acoplamento em meu sistema nervoso e eu psicografei o seguinte texto:
Meu Testamento
(Infelizmente não postarei aqui as mensagens que Daniel endereçou a cada pessoa em particular, pois todas possuem conteúdo que pertence só a ele e a elas. Posso porém dizer que tal Testamento, como ele mesmo entitulou, se trata de pedidos e concessões de perdão, juras de amor, impropérios deliciosos e o mais puro amor e amizade que esse cabra sente por todos nós. Mencionarei apenas o que ele mandou dizer a mim e mensagens que determinaram o desfecho da sua vida material):
...
Ti Tom,vá se fuder! Obrigado por ouvir o meu chamado.
Toda minha família, eu não seria nada sem vocês.
Todos meus amigos, a gente se encontra no bar.
Peço perdão a todos por minha partida presente – não é prematura – chegou minha hora. Não há mais tempo para provas, sacrifícios e expiações.
O amor e o perdão nortearão nossas vidas. Eu quero que a família se una! Eu quero que os amigos se unam. Eu quero que todos se unam além de tudo o que está acontecendo.
Quando a dor passar, fiquem juntos. O grande exercício e lição que eu deixo é que ninguém sabe a hora da viagem. Então tratem-se com amizade e respeito, como se fossem morrer hoje.
O grande exercício é o desprendimento da matéria. Eu peço que desliguem os aparelhos.Me deixem ir em paz. Não suporto nadar nesse tanque. Eu quero o oceano.
Adeus!
Adeus, uma porra!
Luiz Daniel, 23/05/2011
O original dessa mensagem ficará com minha mãe.
***
Depois que sai do transe, minha mãe me contou haver vivenciado alguns sintomas no físico idênticos aos que me acometeram. E estávamos em locais diferentes. Também ela, minha cunhada e meu pai sentiram cheiro de rosas no interior do carro, quando iam para o hospital.

À noite, quando li a mensagem do meu irmão para minha irmã, meu cunhado, minha esposa e um grande amigo, mais uma vez o cheiro de rosas se fez presente, de forma ostensiva, e foi sentido por todos nós.

Sentir meu irmão vivo em mim ratifica mais ainda a certeza de que a morte inexiste. Minha parte eu fiz e minha consciência está tranquila. Cada um fará da mensagem o que bem entender e certamente assumirá as consequências dos seus pensamentos e atos. Viva Daniel!




Quando a morte ronda IV

Esse eu fiz no dia 22 de maio de 2011 e a certeza de que ele estava acordando noutro plano já estava confirmada para mim...

Dão e Celeste são, respectivamente, duas pessoas fortemente ligadas pelo amor a Paty e Mel, meus amigos-irmãos de muito tempo.

 Dão e Celeste deram o zig pouco tempo antes de seu pai...


Meu menino ainda dorme e acordará em outro plano. Meu menino está vivo; só o seu corpo está morrendo. Meu menino é um mestre e com isso não quero dizer que seguirei seus passos, mas saberei adequar seus ensinamentos às minhas escolhas.

Sentirei falta do seu feeling aguçadíssimo - bastava me ver e eu nada falar e ele de tudo sabia o que estava se passando comigo. Nós nos conhecemos pelo direito e pelo avesso, então sempre foi mais fácil nos amarmos, porque nos sabemos tão anjos e tão demônios que nos orgulhamos igualmente de todas as nossas luzes e trevas.

Ele, acima de tudo, sempre foi meu cúmplice e sempre será. Meu poeta Edu, me disse chorando: "Não é possível que o melhor de todos nós irá partir". E eu, porém, vos digo - inclusive ao meu poeta - que é possível sim, porque chega uma hora que o planeta fica pequeno pra quem aprende a amar tanto, a ponto de não mais caber dentro do próprio corpo. É o caso de meu menino. Digo mais: a morte ronda e sempre rondará e ele a vencerá porque tem culhões suficientes para aceitá-la. Quem quiser vencer a morte, trate de aceitá-la e tudo se aquietará como deve ser.

Estou sensível, triste e saudoso, mas amo esse cara e quem ama, libera. Voe, meu filho, meu homem, meu pai, meu irmão, meu amigo, meu tudo. Muito em breve nos encontraremos e falaremos de nós, falaremos de todos e dançaremos na Luz com maestria e doçura.

Agora estará com Dão e Celeste a comer iguarias divinas, soltar flatos e risadas deliciosas, a contar piadas nada aconselháveis a ambientes familiares e certamente a causar constrangimentos nada inofensivos quando mandar alguma alma tomar naquele lugar ou coisa parecida - típico do meu menino...

E como sempre, além de todas as pessoas amadas que estão me apoiando nessa demanda, conto com meus dois amores, Paty e Mel. Ambos também sofridos por mim, por eles, pelos seus que se foram, pelo meu que está indo, pelos nossos. Isso faz com que eu me sinta o Homem mais Rico do Mundo porque amo e sou amado e não há maior fortuna do que essa. Quando penso em tudo o que estamos vivendo: Dão deixou o corpo em março; Celeste, em abril; e Dan, provavelmente em maio, vejo que tudo isso se trata da conclusão de uma experiência cármica que optamos por viver juntos a fim de destampar os limites de nossa consciência e ampliarmos nossa capacidade de amar a nós mesmos e ao próximo. Fecha-se o ciclo das perdas.A última ponta do triângulo foi tocada e um novo tempo se inicia.

Como já sou ínitmo da morte, não vejo muita diferença entre estar aqui ou do outro lado. Só estou nesse plano porque ainda preciso cumprir algumas coisas, porque tenho uma mulher a quem amo profundamente e por ela sou amado, porque tenho uma Obra para cuidar, porque tenho uma família imensa para com ela aprender e a ela ensinar. ORDENO, porém, que se meu cérebro um dia morrer e minha carcaça ficar sendo sustentada por máquinas e drogas, se quem estiver me acompanhando, realmente me amar, fineza permitir que esses artifícios sejam desligados e retirados e me concedam a dádiva de deixar este corpo em paz e em harmonia. Se o fizerem diferente, saibam que estarão me causando imensa dor e sofrimento, e terão contas altas a acertar comigo - não se esqueçam que sou um espírito cigano.

A morte não é um castigo. A morte é cura. Precisamos aprender a amá-la porque ela é maior alquimia da vida. E por pior que seja a dor que sinto agora, existem dores mais horrendas e por isso me sinto privilegiado. Meu mano está dando o zig e eu desejo que a viagem seja boa. Em nome do Amor e da Luz, da Matéria e do Espírito, devolverei seus cristais corpóreos para a Mãe Terra e rezarei para que sua Essência retorne tranquila para Casa. Sendo assim, mais uma missão estará cumprida e uma nova vida começará.

Permaneçamos juntos. Pois esta existência é breve e se aproveitarmos nosso coração para verdadeiramente amarmos, tornaremos os poucos dias que nos restam algo digno de ser vivido e partilhado, Viva Daniel! Viva, Daniel!

Meu menino dorme...

Enzo, meu anjo, durante o processo de doença e viagem do seu pai, escrevi quatro textos no meu blog pessoal. Este é o primeiro deles e foi postado no dia 17 de maio de 2011.

Cá entre nós, quando alimentei a esperança de ele acordar, sabia que poderia ser aqui nesse plano... ou no outro.


Meu menino dorme e logo vai acordar. Tem aprendido coisas que meus milhares de livros e cursos, e vivências, e workshops jamais me ensinaram ou ensinarão e um dia vai se sentar comigo com esse olhar que me hipnotiza, essa presença que me aquece, esse toque que me desperta e me falará de suas andanças, de seus medos, de suas aprendizagens, de seus enganos e mudanças. Sempre soube que amo desesperadamente meu irmão Daniel e o fato de ele estar por um fio, escolhendo pra que lado quer pular, intensifica mais ainda esse sentimento e me enche de alegria porque sei que nada será capaz de nos afastar.

Faz uma semana que não durmo direito, que não como direito e que alterno nos meus altos e baixos mais amiúde que o normal. Meu corpo dói e minha mente tem funcionado com certo desalinho. Eu me esforço para ser um homem espiritualizado, mas sou verdadeiro comigo. Tenho um tesouro chamado apego e desejo que meu amado permaneça ao meu lado, encarnado, depois de acordar. Mas também sou corajoso o suficiente para respeitar sua decisão, seja ela qual for. Meu querer e o querer de todos contam, só que nessa hora o dele é soberano, e como bem o conheço, está calculando tudo direitinho pra saltar com plena de convicção da nova vida que deseja levar.

É maravilhoso, no meio de toda essa confusão, ver o poder que esse cara tem de congregar pessoas espalhadas pelo mundo, gente que estava distante, gente que tinha mágoa de gente, gente que nunca se viu,  gente que sempre se vê, gente que se ama, gente que decidiu se unir com um só objetivo: vibrar por ele. É verdadeiramente o Homem da Paz e seu sono é nosso mestre cheio de lições doces e amargas.

Sei que em breve sairá desse sono e transformará para sempre nossas vidas. Lerá meus contos, fará comentários que me arrasam e têm tudo a ver, beijará sua mulher, abraçará seu filho, se aconchegará com os que o pariram, mexerá com os amigos e os desafetos, impulsionará os colegas e até aqueles que não conhece. Sei que em breve me xingará de tudo o que é nome e me abraçará com seus braços amáveis. Encostarei minha cabeça em seu ombro e receberei seu afago que me protege de mim mesmo.

Prova de Amor


Enzo, meu lindo, num dia, um pouco depois que você nasceu, me encontrei com seu pai para tomar alguma coisa, confidenciar com ele minhas tristezas e alegrias, e vice-versa.

Víamo-nos, mutuamente, como refúgio um do outro.

Chegou o momento em que falamos de nossas relações e ele me perguntou:

- Se cunhada te pedisse uma prova de amor, qual você daria?

Sem pestanejar, respondi:

- Eu provo meu amor por ela no cotidiano. A cada dia reinvento nossa história e adoro viver minha rotina ao lado dela. E você? Se minha cunhada te pedisse uma prova de amor, o que você faria?

Ele tomou um gole e me disse:

- Eu já fiz. Ela é a mulher que eu escolhi para ser a mãe do meu filho.

Missão Alex Kid - O Desafio Final

Enzo, "home, seu minino", olhe que seu pai e a galera dele tem é história, viu...

Mais uma pérola mandada pelo seu Tio Tinho Neto relatando o espírito de companheirismo que sempre reinou entre o grupo de amigos que seu pai faz parte.

É uma história linda! Uma lição de vida sobre determinação, trabalho em equipe e fé.

Nas coisas mais simples da vida há sempre aprendizagens valiosas. Se ligue...


Tio Zé e tia Marinice dão de presente a Daniel um Master System, motivo de vício e início de todas as nossas aventuras juntos.

Nós nos reuníamos todo intervalo de aula, final de aula, pela tarde e aos sábados antes de ir pra AABB pra tentar zerar Alex Kid em Miracle World, Eu, Leleu, Nanato, Bruno, Jorginho, João Paulo e Gordo.

O jogo tinha diversas fases e já estávamos tão viciados que cada um sabia jogar uma fase específica muito bem. Um dia, depois de semanas e meses, conseguimos chegar a última fase do jogo, dia inesquecível pra gente. Só que não contávamos com um pequeno problema: a fase final tinha um código e caso errássemos, o jogo iria voltar desde o início.

 Resultado, ligamos pra Marquinhos de Higino, Ligamos pra Tarik, para Yuri, pra Yanick e não conseguimos falar com ninguém.

O grande dia tinha chegado e não sabíamos como fazer pra sermos vencedores. Como não tinha o que fazer, deixamos o Master System ligado e preso na fase para que no outro dia a gente conseguisse falar com um dos meninos que tinham o código para tentar zerar.

Fomos pra casa e ficamos torcendo para que chegasse logo o outro dia, para encontrar o código e poder zerar o miserável do jogo.

Na escola nós encontramos Marquinhos e Tarick os quais nos passaram a sequência de senha para passar pela última fase. Deu o intervalo do recreio e já de praxe nós corremos para a casa de Dida. Chegando lá o inesperado aconteceu: o jogo travou e teríamos que “resetar” o bicho e começar tudo de novo.

O problema não era recomeçar, o problema era que ele demorava muito pra chegar na fase final. Voltamos para a aula e rezamos pra chegar logo 12:00. Apita a sirene, nós nos encontramos na saída e corremos pra casa de Dida, nos concentramos, cada um deu o seu melhor na fase que mais dominava e a fase final não poderia ser de outra pessoa, ou melhor, outro viciado e fanático pelo jogo senão o velho Dida. Quando chegou a fase final, a hora de colocar a senha, todos ficaram tensos. Dida ficou nervoso e a risada sacana dele quase não se ouvia e fomos dando a sequência pra ele. Quando ele terminou de colocar a sequência e apertou o botão, a tela se fechou e abriu com Alex Kid salvando sua amada. Fogos de artifício apareciam na tela e o letreiro, como se tivesse acabado um filme, começou a subir, e nós feito loucos pulando na copa, dando risada, se abraçando e curtindo cada momento de alegria que foi gerado pelo esforço em grupo que realizamos.

Essa e muitas outras histórias eu vou escrever e peço pros amigos postarem para que fique e seja eterna a lembrança de todos os bons momentos com Dida. 
Te amo primão, te amo pra sempre.

Mas amanhã ele desmorre, né?


Enzo, meu bom, no dia em que o corpo que seu pai abrigou foi sepultado, nossa família recebeu o apoio de muita gente boa e nosso Dida foi super homenageado. Por onde passava o cortejo, as pessoas se emocionavam e o aplaudiam, pessoas demonstravam o carinho e a solidariedade delas ao nos encontrar- foi muito comovente!

O padre Edmilson fez a Encomendação do Corpo dele, na noite anterior; eu comandei um Ritual Xamânico e Ubandista de Encaminhamento da sua Alma na Mansão mais linda de Nazaré; Tinho Neto leu um belo texto; Nós, Maçons, fizemos um Ritual belíssimo; a galera cantou, aplaudiu, foi uma festa!

Mas quando passávamos pelo Educandário Jardim das Oliveiras, Casa do Saber que me abrigou como professor e muito me ensinou, especialmente em função do afeto e amizade da minha inesquecível irmã, Professora Zélia Mota, aconteceu algo maravilhoso: os alunos, professores e funcionários de lá jogaram chuvas de papel picado em homenagem ao seu papai. Foi tão bonito, menino...

Mas o que me chamou a atenção foi uma cena que aconteceu naquele momento e que retrato agora:

No instante em que passávamos pelo lado do Educandário, uma aluna, uma criança linda, perguntou à professora:

- Pró, por que ele morreu?
- Porque Deus precisa dele lá em cima.
A garota pensou um pouquinho e no auge na sua inocência sábia, perguntou:
- Mas amanhã ele desmorre, né?

Ela me fez rir e aliviar a tristeza que ia em meu coração.