terça-feira, 6 de novembro de 2012

Da Força das Tempestades

Meu amado Enzo, desde criança sou louco por ventanias, chuvas, tempestades, relâmpagos, trovoadas e trovões. Quando comecei a praticar o ocultismo e aprendi que os temporais são importantes instrumentos de energização e transcendência, levei a loucura a sério e passei a me expor a todos que pudesse, a fim de buscar esse estado. É claro que apesar de não ser muito certo da cabeça, eu sempre soube que estava sujeito a dois destinos: ou sairia do contato com essa manifestação da natureza totalmente energizado ou seria fulminado por um raio - o que constituiria o extremo transcendental - ou ainda ambos.

Sua avó Marinice ficava doida com meus feitiços, experiências e encantarias e por mais que tentasse me reprimir com dogmas católicos, era só virar as costas e eu estava aprontando - para minha alegria.

Seu pai sempre se ligou em minhas ondas e curtia me acompanhar na maioria delas. Ensinei Dida também a amar as tempestades e sempre que elas rolavam lá em Nazaré, (ainda vivíamos lá) íamos para o Morro da AMORC (Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz), quando era um lugar mágico, e ficávamos nus, tomando banho de chuva, curtindo cada trovão, maravilhando-nos com cada relâmpago e raios, e festejando em alto e bom tom o milagre da vida.

Hoje, dia 06/11/2012, depois de tanto tempo sem fazer isso, pela própria demanda da vida e por não ter mais meu Parceiro encarnado, fi-lo novamente e foi sensacional! A tempestade foi se formando desde as primeiras horas da manhã. Depois das 18h00, as nuvens estavam demasiadamente carregadas, o calor era insuportável, sentia um peso estranho na cabeça, no tórax e no abdome, e velho conhecedor desses fenômenos, sabia o que estava por vir.

Os primeiros relâmpagos e trovões abriram o espetáculo e aí, como diz seu avô Curió, "O couro comeu". Chuva forte, trovoadas que pareciam querer levar o teto da casa, raios e trovões iluminando a noite e meu impeto para sair, crescendo. Sua tia Ci também curte os temporais e compreende meus processos. Eu disse para ela: "Vou para a tempestade". Ao que me olhou, sorriu e disse: "Não fique próximo às árvores" - Porque elas atraem os raios.

Vesti a sunga e sai para a noite. Fui para o descampado e pude sentir mais uma vez a chuva forte a massagear minha pele, a banhar meus cabelos e aliviar a sensação de peso que estava comigo antes. E como antes, despi-me, permanecendo totalmente exposto e entregue à ação das trovoadas e das descargas elétricas que encheram o céu de luz e cor. Nessa hora, a luz elétrica se foi e experimentei novamente aquela sensação inigualável de poder e transcendência. Também me lembrei das tantas vezes que fiz isso tendo seu pai como cúmplice, e ao invés de me sentir triste, fui tomado por uma estrondorosa alegria, porque naquele momento o percebi novamente ao meu lado, gargalhando comigo, celebrando o milagre da vida.

Quedei-me um tempo vivenciando aquela magia e ratificando que ele está mais vivo que nunca e que não tenho por que me sentir só. Não sei quanto tempo durou a viagem; sei que foi uma doce eternidade, porque foi intensa e profunda. O espetáculo foi chegando ao fim, a luz elétrica voltou, vesti a sunga e regressei ao meu lar, para os braços da sua tia, pleno de mim mesmo, do amor que me une a seu pai e da força da tempestade.

2 comentários:

  1. Emocionante. Lembrei da gente também, na varanda da nossa casa, vendo os trovões e raios que caiam atrás do morro do cemitério. Era uma diversão... como sinto falta desses momentos.

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