sexta-feira, 25 de maio de 2012

O Herege Bendito


Enzo, meu sobrinho querido, cá estou eu” depois de um longo e tenebroso inverno” a postar novamente sobre o seu amado pai, meu amado irmão – graças a Deus e a mais um surto inspirativo que me invade após uma fase de seca criativa. Oba! Quando esse fenômeno acontece a um ser estranho como eu, há o lado bacana de produzir a mil por hora; como também há o sombrio de varar madrugadas em total excitação e num ritmo desgovernado. Que mal há nisso? É que não posso, ainda, me dar ao luxo de dormir até o meio-dia e tenho de estar de pé às 7h00 para cuidar de mim, da minha amada, dos meus gatos, do meu lar e dos meus afazeres como administrador, terapeuta e o que ocorrer. Deixemos porém de trololó e vamos ao ponto.

Quero falar sobre a deliciosa postura herege de seu pai e da seriedade que é o lance de energia. Sua mãe e a minha, mulheres que amo e admiro, em função de haver se completado um ano que seu pai deu o zig, resolveram, em dias e locais distintos, marcar uma missa em memória dele: Seu pai, quando criança, até curtiu esse negócio de igreja; mas quando se tornou e se assumiu como livre pensador, me saiu um dos iconoclastas mais fantásticos que conheci, chegando até a me superar em algumas questões – que obviamente não comentarei aqui devido ao sigilo que eu e ele juramos a nós mesmos e ao Deus que desnecessita de templos.

Pois é, quando eu soube da missa que ocorreria em 22/05/2012, marcada por Taís, em Salvador, me animei todo para ir - não pelo ritual catoláico em si, mas pela oportunidade de estar mais uma vez junto com sua mãe, contigo, com minha irmã, com suas primas, como nossos amigos e demais parentes num momento harmônico de oração pelo velho Dida. – Só que ou por conhecer bem meu broder, ou por sacar que ele estava pouco se lixando para algo desse tipo, pensei: Será que Dida vai gostar disso? Ele que literalmente esculhambava os abusos e sandices da Santa Madre?

Resolvi parar de pensar e pus-me a programar minha ida. Aí tudo começou a virar: a frente fria trouxe chuvas constantes para Soterópolis e litoral baiano. Como moro no meio do mato (ou me escondo) fiquei ilhado porque surgiram crateras enormes na estrada de chão. Salvador ficou debaixo d’ água, os ônibus entraram em greve, a Avenida Paralela travou, pouquíssimas pessoas conseguiram chegar a tempo para a celebração e a vida seguiu seu curso.

Falando com sua avó Marinice no dia 24/05/2012, pela manhã, soube que ela havia marcado outra missa, para este mesmo dia, às 12h00, em Nazaré. Internamente questionei-me: Pra que isso? Dida não curte missa. Mas decidi me silenciar e respeitar a viagem. Só que um furo maior ainda aconteceu: na noite do mesmo dia, liguei para aquela que me pariu a fim de saber como tinha sido a missa e tal, e qual não foi minha surpresa quando ela me disse que encontrou alguns familiares e pessoas amigas na igreja, todavia o padre não apareceu. Oh! Como não?! O vigário se esqueceu do compromisso e se picou para Amargosa, deixando os fieis a verem navios...

Diante desses dois acontecimentos visivelmente avacalhados, concluo, na minha forma louca de ler os sinais que me norteiam, que seu pai deve ter dado gargalhadas gostosas ao ver que as coisas fugiram do controle e dos planos. Dida não curte missa. Dida não curte igreja e isso não o faz menos espiritualizado do que ele é e do que ele vai se tornar ainda mais. E quando digo isso, não é por pura suposição – é porque sei mesmo e tenho acesso. Se o amamos, não precisamos de templos ou rituais mecânicos para expressarmos esse amor. O amor é um exercício diário. No café da manhã, no trabalho, no estudo, no almoço, no descanso, na curtição, no estresse, no caminhar, no dirigir, no viajar, na arte de parar, na janta e antes de dormir, todo tempo é tempo de amar. Todo lugar é sagrado quando vibramos nele, o amor. Todo tempo é tempo de pensar nele e em todos que estão aqui e lá. Todo tempo é tempo de enviarmos nosso amor, nosso carinho, nossa saudade e nossa alegria. Meu Bendito Herege, graças ao Bom Deus, está cada vez mais vivo. Tratemos de nos alegrar e de nos unir cada vez mais. Vamos nos abraçar e celebrar a vida, e receber quem está chegando e agregar sonhos, esperanças, experiências e divertimentos.

Qualquer dia também iremos. Qualquer dia, em toda parte, também estaremos.

7 comentários:

  1. Antonio, meu santo pagão, qdo vc se inspira eu me deleito.
    Lindo ler isso e constatar que fiz a escolha certa qdo decidi, junto com mainha e Jea, a não fazer missa de 1 ano de morte.
    O cara não curtia a onda, então vamos respeitar, né? E foi massa, nos reunimos em casa, lemos o evangelho e mandamos todo nosso amor para ele. E faço isso todos os dias. Porque esse amor não acabará nunca.

    "O amor vai sempre ser amor, em qualquer lugar..."

    bjo!

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  2. É isso aí,minha blogueira predileta. Nada como medirmos nossa vida em amor. Amo-te.

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  3. Meu irmão Antonio... ao ler essa postagem voltei no tempo lembrando dos nossos sabados, quando nossa mame nos obrigava a ir para missa da criança. A gente ia interessados nos lanches de Nenel ou o sorvete de TOMSOM lá na praça. Lembrei também das Pizzas que a gente comia lá no Maria Fumaça, feitas pela irmã de Andreia. Daniel dobrava a pizza em três, quatro e comia tudo de vez, para acabar mais rapido e comer mais que a gente.
    Daniel ficava com Cicero (filho de Raimundo Matos) pertubando durante a missa realizada "religiosamente" na Igreja Matriz da nossa querida e amada cidade. Ele enrolava pra tomar banho, enrolava para nos acompanhar e era uma onda a cara dele nos momentos dos canticos...

    Não importa onde a gente esteja: na igreja, no centro,num templo, num terreiro, em nossa casa... o que importa é a força da nossa oração. A força do nosso pensamento positivo voltado pra ele.

    Tenho certeza que ele sentiu o nosso amor, a nossa saudade e a nossa vontade de vê-lo bem, forte, cercado de luz e muita paz.

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    1. Que postagem bonita, minha irmã. Você me fez chorar e rir. Amo-te!

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  4. Aqui é Susana. Muito bom seu texto, como já tinha comentado no face, você escreve de forma muito simples, lúdica, visceral... Como se escrever sempre tivesse feito parte de vc, aliás como se escrever e vc fossem tudo uma coisa só!
    Quanto a esse blog do seu irmão, venho acompanhando desde que soube do ocorrido. Nunca escrevi antes por timidez e dificuldades que tenho de escrever, mas, agora estou enfrentando.
    Enfim, que figura incrível era seu irmão!! Com certeza onde estiver estará levando muita alegria pra todos que se aproximam!!
    Me deu muita vontade de ter conhecido ele tbm, mas aí pensei, a gente não precisa conhecer a pessoa pra gostar dela, eu já gosto do Dida sem tê-lo conhecido. Gosto pelo que as pessoas contam, pelas fotos...
    Meu amigo, não existe presente mais bonito que está dando pra seu sobrinho, que linda prova de amor! Vc imortalizou o seu irmão e onde ele estiver, tenho certeza que recebeu essa irradiação de amor infinito!
    Parabéns, linda sua atitude!!
    Beijão e te amo demais!!

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    1. Minha amiga Su... O que é que eu posso dizer? Amo você,minha amiga, e é uma alegria ver a postagem de uma das figuras mais sensíveis e inteligentes que fazem parte da minha vida: você.

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