domingo, 21 de agosto de 2011

Texto de Juliana

Enzo, meu anjo, olha que texto bonito sua tia Juliana fez... Durante os 18 dias de expectativa e agonia que passamos, não houve um sequer, que sua tia Jubão, como gosto carinhosamente de chamá-la, deixou de se fazer presente. Isso é lindo!

Eu relutei muito em escrever esse texto. Talvez por querer que essas lembranças fossem só minhas, um segredo meu e de Dan, uma coisa só nossa para sempre. E demorou para eu entender que, por mais que eu a conte para toda uma comunidade, ela continuará sendo só nossa.

EU não tenho uma história com Daniel. Tenho uma vida inteira! Nos conhecemos na alfabetização! Estudamos juntos sempre! Vi Daniel tirar 10 com uma redação de 30 linhas que só tinha uma frase. Ele era assim: transgressor! Não se importava nem um pouco em inovar com uma redação RIDÍCULA! Ele poderia ter tirado 0! Mas mesmo assim, foi ela que ele entregou. Nossa turma era bastante unida. Éramos muito próximos. Foi com ele que assisti meu primeiro filme pornô. VERDADE! Nos juntávamos, íamos para a casa dele, minha ou de Bele (isso dependia de qual pai estava viajando), alugávamos filmes pornôs em Soninha, comprávamos pipoca e guaraná e assim passávamos a tarde. Rindo aos sons dos uis e ais.

E mesmo quando a vida nos jogou em Salvador, lá estávamos juntos. A faculdade de Dani era pertinho do meu apartamento. Não foram nem uma, nem duas, nem 10 aulas que ele matou lá em casa. Bebíamos um litro de Natasha. Sempre. Com todas as misturas imagináveis. Maracujá, leite condensado, manga, morango. O que mais achássemos! E passávamos a noite tirando fotos engraçadas como essa. Ou deitados do lado de fora do apartamento, com a cabeça na porta do elevador, para ele poder fumar uma carteira inteirinha. Conversávamos sobre tudo. Comigo ele dividiu os problemas familiares e os afetivos também. Dormíamos completamente embriagados pela sala. Eu, ele, Talyta, Bele e Scheila. Dani sofreu quando perdeu Tejo e sofreu um pouquinho mais quando teve que dar João. Dani sofria e amava e ria e xingava.

Não tínhamos mistérios, não tínhamos cerimônia. Foi desta forma, sem cerimônia, que Dani me procurou para dizer que ia ter que se afastar porque estava apaixonado e Tais tinha ciúmes da gente. E eu entendi... Afinal, nem todos poderiam entender nossa amizade limpa. Limpa de qualquer maldade. Mas mesmo assim, apaixonado, ele me cumprimentava da mesma forma: lascava a mão na minha bunda e me chamava com um sonoro GOSTOSA! E aos poucos Tais foi entendendo que nossa relação era da mais pura amizade. E acabou fazendo parte desta amizade e nos adotamos como amigas.

Uma das nossas histórias mais engraçadas aconteceu no apartamento em que ele dividia com Jamile. Malu era pequenininha e Daniel não se esforçava em dar bons exemplos. Esse era um dos motivos deles brigarem tanto. Então, um dia Dani disse:

-A cachaçada hoje será lá em casa.

-Mas Dani, e como é que a gente volta pra casa?

-Porra de casa... A gente vai dormir lá! Todo mundo!

Lá fomos nós. Compramos nossa Natasha habitual, cervejas, salgadinhos e biscoitinhos. A babá de Malu estava de olho na gente. Daniel sabia que, quando Jamile chegasse, ela nos entregaria. Foi aí, como em todas as histórias que ele faz parte, que ele teve a brilhante ideia:

-Vamos embebedar Michele??

-Hã??

-É! Porque ai essa filha da dis... não vai poder nos entregar!

Realmente foi uma boa ideia e assim fizemos! Quando Jamile chegou, estávamos dormindo completamente embriagados na sala e Michele, só Deus sabe onde ela estava! Mas estava bêbada também! Hahahaha.

Foi Dani quem resgatou Neto, Pablo e Jorge completamente embriagados na Mouraria e levou todos eles para dormir na sua casa. Quatro homens bêbados, dormindo praticamente abraçados na sala. Creio que não era realmente um bom exemplo para Malu! Hahahaha.

Não fui ao casamento dele porque foi um mês antes do meu. E eu estava tão nervosa e sensível naquela época! Não podia ir a casamentos que me acabava de chorar! Por isso que preferi não ir para não chorar. Só Deus sabe como me arrependo até hoje.

A gravidez de Tais, seguida da minha, nos uniu da forma que deveria ser. Dani, Tai e Enzo foram me visitar na véspera de Cecília nascer. E eu me senti tão segura, tão amada! Foram eles Também quem primeiro nos visitaram quando tivemos alta do hospital. Sempre carinhosos, sempre maravilhosos. Eu sempre tinha um sentimento gostoso quando avistava Dani surgir no meu horizonte! Foi assim quando eles foram pela primeira vez ao Riviera.

Quando soube que Dani tinha sido internado, doeu profundamente. Nas orações às 18 horas, eu me preocupava em depositar ali toda a minha energia para a cura de Dan. Não, o mundo não poderia perder Daniel. Aqueles 18 dias foram dias de reencontro com Deus. Cada um fez o que pode para entender porque o mundo tinha se desorganizado daquela forma. Porque ele não veria Enzo crescer. Choramos rios inteiros. Rezamos mais do que rezamos em toda a vida. Mas nos intervalinhos, mesmo naquele clima pesado da UTI, ríamos e revivíamos Daniel. Porque Dani nunca foi tristeza. E foi assim também no cortejo. Ríamos e revivíamos Daniel porque era assim que ele era. Era isso que ele queria. Daniel não é, nunca foi, nunca será tristeza.

Por isso, pequeno Enzo, quando for pensar em seu pai, sorria! Sorria! Sorria! Porque era assim que ele era e é assim que ele quer que você seja. Daniel é amor! Daniel é liberdade! Daniel é transgressão. Onde quer que ele esteja, ele está olhando por você. Ele sabia e sabe que cultivou e semeou amizades verdadeiras porque ele era verdadeiro. E foi por isso que ele pôde ir embora. Porque sabe, tem toda certeza, que tem um pedacinho dele em cada um de nós que vai estar cuidando de você.

VIVA DANIEL!

2 comentários:

  1. Ai Ju... li seu lindo texto e foi como voltar ao passado... ôh dia, quando abro a porta de casa, inicio de namoro com Roberto (meu atual esposo) e me deparo com vcs e Michele caindo pelas tabelas... embolando a voz e rindo feito uma hiena... tive vontade de jogar vcs lá de cima do 4° andar... E depois, chegar de uma noite romantica e encontrar 3 homens abraçados, dormindo num colchão no chão da sua sala... Só me lembro da cara de Beto e a interrogação na testa dele? "O QUE É ISSO? CADE MALU???" Um monte pares de pés, todos sujos, a sala era puro álcool e suor... só poidia ser arte de Daniel... ele não tinha medo, não tinha vergonha, não pensava nas consequencias. Queria viver o momento e o resto que "se lascasse!". Brigávamos e nos amavamos, eu sempre quis tudo limpo e organizado e ele, não tava nem ai para nada... melhoramos o nosso relacionamento quando deixamos de morar juntos, erámos muito diferentes, mas na verdade sempre fomos iguais. Iguais no amar, no sentir, no querer o bem um do outro. Queria cuidar dele, queria ter tido mais tempo para isso... Dani foi um pouco e muito pai de Malu, e me lembro de um dia que depois de uma briga feia que tivemos, que eu sair de casa chorando e tomei uma queda danada da escada com Malu (com uns 3 anos) no colo ele veio nos socorrer e pediu desculpas se acabando de rir...recordações... puts, são muitas e cada vez aumentam mais. Quero muito fazer por Enzo o que não tive tempo para fazer com aquele "Sacaninha". Amo e amarei sempre meu Dida... saudade da porra!!!

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  2. Ai, meu Deus, fortes emoções nesse blog, desse jeito eu não aguento.
    Ju, só posso te dizer que é lindo ler coisas que saem do coração!

    um bjo pra tds aqueles que amam Daniel.

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