domingo, 10 de julho de 2011

Curtas do Velório - III - A Turma do Funil

Meu lindo, essa foi sua tia Malu Cardoso que relembrou e eu tratei de enfeitá-la.

Estávamos eu, Malu Cardoso, Dida e Ricardo de bobeira no Maria Maria. Era o dia do Eclipse Total da Lua e a gente deu inicio a um debate para definir aonde iríamos ver o tal fenômeno.

Algum iluminado entre nós, realmente não me lembro quem, porque estávamos todos entrando em estado alterado de consciência, ou seja, nos embriagando, sugeriu irmos para Barra Grande. Ideia aceita. E lá fomos nós.

A gente ia ouvindo som, curtindo a noite, falando merda, fofocando, soltando flatos, Dida no volante, coisa bem básica e à proporção que nos afastávamos de Nazaré e nos aproximávamos da ilha, sacávamos que o céu estava ficando mais nublado e que era certa a chegada de uma tempestade.

Chegando em Barra Grande, tivemos uma grata surpresa: encontramos Rogério Pan, nosso grande broder, que se juntou a nós nessa empreitada lunática. Cheios de alegria, fomos a um local recomendado por ele a fim de presenciarmos o Eclipse.

Sentamos na areia, a farra rolando solta, bom papo, céu nubladaço, vento frio da moléstia, relâmpagos e trovoadas. Nada de Lua Cheia que entraria em Eclipse (Tudo isso me lembra a Saga Crepúsculo – tem nada a ver, né?)

Como para nós, nunca houve tempo ruim, continuamos nos divertindo e num determinado ponto, todos enlouquecidos, me levantei e disse:

- Vou fazer o giro.

O giro é um exercício que nos ajuda a ampliar nossa consciência e visão do mundo e não deve ser feito por pessoas que não estejam sóbrias.

- Deixe de onda, irmão – disse Dida – Você já tá “bebo”, pra que vai girar?
- Pra receber melhor as influências mágicas do eclipse.
- Porra de influência mágica. Você vai é se foder...

Fui para a beira da praia, fiz o exercício, fiquei legal e voltei para perto deles me gabando. Ricardo era o mais enlouquecido de todos nós, pra variar, e decidiu fazer o giro também.

- Não vai prestar – praguejou Dida gargalhando.

 O exercício consiste em dar 33 voltas em torno do próprio eixo, o que normalmente deixa o cabra meio tonto no final, mas mesmo assim, ele quis fazê-lo.

O Katatau chegou ao mesmo lugar que eu tinha ido, concentrou-se e pôs-se a girar. Na décima volta, perdeu o equilíbrio e pow! Estabocou-se no chão.

Todos não nos aguentamos de tanto rir.

- Vixe, irmão – disse-me Dida – Isso vai matar Ricardo, vá dar uma força a ele.
- Precisa não – Gritou Ricardo lá jogado no chão, tentando se erguer – Eu tô bem pra caralho.

Ricardo se ergueu e pôs-se a girar novamente. Na quinta volta, Pow! Estabocou-se mais uma vez, de cara na areia.

Mijamo-nos de rir.

Penso que Ricardo estava no papel de Stallone vivendo Rock, o lutador. Encheu-se de determinação, “um certo ar cruel de quem sabe o que quer” e cambaleando, ergueu-se mais uma vez, concentrou-se e girou. Na terceira volta, Pow! Já sabe, né?...

Crise de riso.

Ricardo se injuriou e sabiamente decidiu que não convinha mais tentar girar naquela noite fantástica. Tomamos vinho, otras cositas más, rimos muito, vimos relâmpagos, ouvimos trovoadas e Eclipse mesmo que era bom, nada.

Regressamos para Nazaré e no trajeto, quando estávamos passando pela Ponte do Funil, Dida me pediu:

- Titom, cante uma música pra nós.

Trouxe a energia de Ângela Maria, adicionei uma pitada de “Empombagiramento” e comecei a cantar:

- Chegou a Turma do Funil/ Todo mundo bebe/ Mas ninguém dorme no ponto/ Ui, ai, ai,ai, ai/ Mas ninguém dorme no ponto/ Nós é que bebemos/ Vocês que ficam tontos/Ui, ai, ai, ai, ai.

Quando me dei conta, estavam Malu, Dida, Ricardo e Pan (que voltou conosco) rindo horrores e cantando a adaptação comigo. Foi emocionante e ali nasceu “A Turma do Funil”, confraria de curtidores e livres-pensadores que se dedicavam ao prazer, aos excessos, ao desfrute, à livre expressão de ideias e emoções e deu muito o que falar na pequena e pacata cidade de Nazaré como também arrastou seguidores por um bom tempo, embora jamais houvéssemos tido a intenção de fazer daquele delírio, um movimento.

VIVA DANIEL!

4 comentários:

  1. Enzo, meu lindo, gostaria de deixar registrado que nessa época, eu estava em Salvador estudando.

    Um beijo, e fique bem comportadinho.

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  2. KKKKK...Como eu queria esta neste eclipse!!!rsrs

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  3. Me joguei num misto de lágrimas e gargalhadas...Cada momento parece ter sido "ontem", tão vivo e eterno como o próprio Dida...Saudade, sempre!

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  4. Não vejo a hora de ver esse livro publicado!!!
    Eu vou ser demitida!!!
    Não vou ler mais, nem entrar no blog na hora do trabalho.
    Tive que sair da sala e não conseguia parar o riso!!!

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