quarta-feira, 22 de junho de 2011

Óculos


Enzo, meu bom, uma das coisas que me chamava muito a atenção com relação a seu pai era a obstinação do cabra. Muitas vezes, ele empacava que nem jegue, quando queria uma coisa, mesmo que seu desejo fosse “aparentemente” o mais irracional que se possa imaginar. A história abaixo é apenas um exemplo desse comportamento riquíssimo e pra lá de interessante. Saca só...

Há anos atrás, sofri um acidente em Salvador. Fui atropelado por um carro e quando ele me arremessou no asfalto, tive uma fratura no braço e alguns ferimentos. No momento em que caí, bati com a face esquerda no solo e tive uma lesão próxima ao olho – os óculos viraram nada.

Dias depois de todos os socorros devidos (nunca me esqueço da força do seu tio Cleber Fonseca, que estava próximo a mim na hora do acidente) fomos eu, meus pais e Daniel ao consultório do nosso amigo oftalmologista Dr. R., em Santo Antonio de Jesus, pois morávamos em Nazaré, para vermos se houve algo grave com meu olho esquerdo.

Dr. R., como sempre, foi muito gentil conosco, tratou-me com atenção e diligência, ouviu meu relato e pôs-se a me examinar.

Graças a Santa Luzia, não houve danos em minha visão. Só precisaria mesmo comprar óculos novos.

Foi aí que nosso amigo médico quis também examinar a visão de Dida. O guri gordinho se sentou todo tirado na cadeira do “oftalmo” e os testes começaram.

Ao final deles, Dr. Roberto disse para Dida:

- Seus olhos estão ótimos. Tá tudo bem com você.

- O senhor está dizendo que não preciso de óculos?

- Isso mesmo.

Daniel fechou a cara.

Despedimo-nos e nos retiramos do consultório.

Quando nos demos conta, Daniel estava se acabando de chorar:

- O que foi, Dan?-Perguntei.

- O que foi, meu filho? – Indagou minha mãe.

- Esse médico da “misera”! Esse Filho da P... tá errado. Eu quero repetir o exame. Eu quero usar óculos. Ele não sabe de nada.

- Mas Dani – argumentou meu pai – Que negócio é esse, desgriba? Ele é o melhor oftalmologista que conhecemos. Ele fez tudo o que podia fazer para te examinar. Você ao invés de ficar contente porque não precisa de óculos, fica assim... Nunca vi isso.

- Quero saber de nada não, meu pai! Me deixe, viu. Eu quero usar óculos. Eu vou usar óculos e não se fala mais nisso!

- Mas você não tem nada... – minha mãe ensaiou falar e foi cortada imediatamente por Dida.

- Mesmo eu não tendo nada, preciso usar óculos e não se fala mais nisso.

Rimos mudos e discretos e não se falou mais nada.

2 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... Só Daniel viu!!!?

    Tá muito lindo este blog... e este livro tô achando que será daqueles clássicos (de 400 páginas)... rs

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  2. Te curto, Lai. Beijin e São Jão feliz procê.

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